Ninho de pássaros no santuário pássaros de Nalsarovar, Índia.
Paris (AFP) - O tecelão-parasita (Anomalospiza imberbis), uma espécie de ave pequena encontrada na África, é conhecido por ludibriar outros pássaros que acabam por criar seus filhotes, mas um novo estudo demonstrou a cara de pau deste enganador emplumado em se evadir do dever parental.
O passarinho de padrão listrado e amarelo predominante, do tamanho de um pardal, é um bicão conhecido.
Ele deposita seus ovos nos ninhos de outras aves e tenta, inclusive, combinar seus ovos, disfarçando-os para que se pareçam com o de seus hospedeiros.
Desta forma, ele tira vantagem das aves que acabam virando, involuntariamente, pais adotivos, que chocam os ovos dos tecelões-parasitas junto com os deus próprios e criam os filhotes depois que estes saem dos ovos.
Agora os cientistas testemunharam pela primeira vez a persistência das avezinhas em seu elaborado plano de ilusão.
De acordo com um estudo publicado na revista Nature Communications, a fêmea retorna para o mesmo ninho hospedeiro várias vezes para depositar quantos ovos puder, provavelmente a uma taxa de cerca de um ovo dia em dias alternados.
Ao depositar alguns ovos no mesmo ninho, o tecelão-parasita confunde os hospedeiros, tornando-os menos capazes de identificar e descartar os ovos invasores, separando-os dos seus próprios.
"O tecelão-parasita desenvolveu uma estratégia nova para desbaratar as defesas do hospedeiro e aumentar seu êxito reprodutivo", explicou o co-autor do estudo, Martin Stevens, da Universidade de Exeter.
"Eles enganam os hospedeiros e, com isto, ajudam a que mais filhotes sejam criados", acrescentou.
Os filhotes de tecelão-parasita costumam crescer mais rápido e são mais estridentes em pedir comida do que os filhotes dos hospedeiros, que acabam morrendo de fome, enquanto os intrusos recebem mais comida de seus pais traídos.
Em Zâmbia, onde o estudo foi realizado por uma equipe da Grã-Bretanha e da África do Sul, a vítima mais frequente deste enganador é a prínia-de-flancos-castanhos (´Prinia subflava´) africana, uma ave de tamanho similar, mas de cor mais escura.
O tecelão-parasita é da família Passaridae. É parente distante do cuco verdadeiro, que migra entre a África e a Europa.
A prínia costuma por de dois a quatro ovos e procria durante a estação úmida, entre fevereiro e março, na Zâmbia.
Cerca de um quinto dos ninhos de prínias é invadido por tecelões-parasitas, mas os hospedeiros às vezes descobrem os ovos invasores e os põem para fora, explicou Stevens.
Acredita-se que há algo próximo a 100 milhões de diferentes espécies vivas no mundo(Foto: AFP)
Marcus Eduardo de Oliveira
Agrada-me, sobremaneira, conceituar biodiversidade como sendo a exuberância da vida na Terra, incluindo, obviamente, a participação da nossa espécie. Afinal de contas, somos “provenientes” de um longo processo biológico; somos também espécie de “fruto” da biodiversidade, uma vez que nosso corpo mantém mais de 100 trilhões de células compartilhando átomos com tudo o que está ao nosso redor, enaltecendo, pois, a exuberância da vida. Somos todos, em outras palavras, parte do universo.
Carl Sagan (1934 - 1996) asseverou que somos feitos do mesmo pó cósmico que se originou com a explosão das grandes estrelas vermelhas; somos, assim, do mesmo material que compõe uma estrela. Os átomos de carbono, nitrogênio e oxigênio em nossos corpos, assim como os átomos de todos os outros elementos pesados, foram criados em gerações anteriores de estrelas há mais de 4,5 bilhões de anos.
É incrível nos darmos conta de que em cada ser humano (dentro de cada um de nós) há mais seres vivos do que, por exemplo, a população mundial. Temos assim uma íntima relação com a biodiversidade: não é por mero acaso que no corpo de cada ser humano há mais ou menos 71% de água (a mesma porcentagem que há no Planeta Terra), nossa taxa de salinização do sangue (3,4%) é a mesma dos mares. Simplesmente, 60% do nosso corpo é oxigênio. Se incluirmos o carbono, hidrogênio e nitrogênio existentes no nosso corpo, temos então 95% da massa total do ser humano. De 92 elementos químicos existentes na natureza, 17 deles regulam todo o processo da vida.
Todos os seres vivos, e também o ser humano (cuja origem filológica vem de “húmus” significando “terra fértil, fecunda”), são construídos a partir de um código genético comum (são 30 aminoácidos e quatro ácidos nucléicos).
Acredita-se que há algo próximo a 100 milhões de diferentes espécies vivas (fauna, flora, microorganismos) dividindo esse mundo com a nossa espécie; embora atualmente estejam catalogadas apenas 1,4 milhão de espécies.
O biólogo e entomologista norte-americano Edward Wilson, ainda em plena atividade intelectual em seus 84 anos de idade, nos conta que “num só grama de solo, ou seja, em menos de um punhado de terra, vivem cerca de 10 bilhões de bactérias, pertencentes a seis mil espécies diferentes”.
Participamos ativamente dessa rica convivência biológica, numa verdadeira simbiose (“sim”, em grego, significa “junto” e “bio” é a própria vida). Pela fotossíntese, as plantas, sob a luz do sol, decompõem o dióxido de carbono, “alimento” para elas, e liberam o oxigênio, “alimento” para a nossa vida e a dos animais. Com a participação do gás carbônico e da água, as plantas, nesse processo, produzem açúcares. A partir disso, outras substâncias são produzidas, como as proteínas e as gorduras que formam nossos corpos.
Igual importância reside nas estrelas, que além de iluminar as noites, tem a função de converter o hidrogênio em hélio e, da combinação entre esses gases, provém o oxigênio, o carbono, o nitrogênio, o fósforo e o potássio. Sem essa rica combinação não haveria os aminoácidos e nem as proteínas indispensáveis à vida. Pois isso tudo engloba a biodiversidade, esse termo cunhado pela biologia.
Absolutamente tudo o que for feito à biodiversidade, às diferentes espécies de vida, também será feito a nós, e nos atingirá por completo. Agredir os ecossistemas, a biosfera (conjunto de todos os seres vivos, das amebas às baleias, das algas às árvores, dos vírus aos homens) é agredir à própria vida.
Lamentavelmente, ações antrópicas tem se dado de forma veemente no sentido da dilapidação natural. Estudos apontam que entre 1500 e 1850 foi presumivelmente eliminada uma espécie a cada dez anos. Entre 1850 e 1950, portanto, em cem anos, eliminou-se uma espécie por ano. No entanto, com o avanço das atividades humanas sobre a natureza, a partir de 1990 está desaparecendo uma espécie por dia.
As estimativas para o futuro são ainda mais estarrecedoras. De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza, no mundo, por volta de 11% das espécies de aves, 25% dos mamíferos, 20% dos répteis, 34% dos peixes e 12% das plantas estão ameaçadas de desaparecer para sempre nos próximos cem anos.
Quando pensamos que toda a atividade humana se desenrola dentro da ecosfera (dividida em quatro camadas: atmosfera, biosfera, hidrosfera e litosfera), nos damos conta da real e intrínseca dependência que temos das coisas da natureza, quando dela extraímos todos os recursos necessários à produção e, para ela devolvemos resíduos e rejeitos resultantes dessa ação.
Por isso é necessário – imprescindível, diríamos com mais ênfase - um cuidado (a palavra “cuidado”, segundo a filologia, deriva do latim cura, termo usado em condições de amor e de amizade) todo especial para com a biodiversidade, bem como em relação ao planeta que nos abriga.
Para tanto, todas as ações políticas e, principalmente, as econômicas (visto que a economia é o eixo articulador de uma sociedade) deveriam, primeiramente, se pautarem nas premissas dos enunciados ecológicos, expressos na busca da sustentabilidade, ou seja, de uma ação que procura devolver o equilíbrio à Terra e aos ecossistemas; que procura, outrossim, preservar a biodiversidade.
Avanços e estratégias nesse sentido têm sido conquistados nos últimos tempos. Vejamos, por exemplo, que são cinco os objetivos estratégicos que compõem o projeto intitulado “Década da Biodiversidade”, lançado pela Organização das Nações Unidas, em 2010, cobrindo um período de análise de 2011 a 2020.
Os objetivos em pauta desse projeto são: 1) abordar as causas da perda da diversidade biológica mediante a incorporação do tema pelos governos e sociedade; 2) promover o consumo sustentável; 3) proteger os ecossistemas, as espécies e a diversidade genética; 4) desenvolver um plano global de biodiversidade e; finalmente, 5) aumentar os benefícios para todos os serviços que impliquem a preservação da diversidade biológica e dos ecossistemas.
No ano do lançamento do projeto, o balanço sobre o estado da biodiversidade apresentado pela ONU concluiu que a biodiversidade está se extinguindo especialmente em zonas úmidas do planeta, como habitats de gelo marinho, pântanos salgados, recifes de coral, bancos de algas marinhas e de moluscos. Quanto às espécies de vertebrados, o relatório apontou que desde 1970 houve um “encolhimento” de quase um terço dessas espécies existentes no globo.
Biodiversidade brasileira
O Brasil está entre as nações com maior índice de biodiversidade no mundo com quase 20% de número total de espécies da Terra e 12% dos recursos hídricos do planeta – perfazendo 5,4 trilhões de metros cúbicos -; nossa costa marinha possui 3,5 milhões de Km2.
Lamentavelmente, em termos de água, desperdiçamos 46% dela. Isso daria para abastecer toda a França, a Bélgica, a Suíça e o Norte da Itália.
Especificamente em relação à nossa biodiversidade, é oportuno apontar que essa riqueza natural ocupa lugar de destaque na economia nacional. Dados elaborados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) destacam que o setor de agroindústria, sozinho, responde por cerca de 40% do PIB brasileiro; o setor florestal, por sua vez, responde por 4%; e o setor pesqueiro, por 1%.
Produtos da biodiversidade em relação à agricultura respondem por 31% das exportações brasileiras, com destaque para o café, a soja e a laranja. As atividades de extrativismo florestal e pesqueiro empregam mais de três milhões de pessoas. A biomassa vegetal, incluindo o etanol da cana-de-açúcar, e a lenha e o carvão derivados de florestas nativas e plantadas respondem por 30% da matriz energética nacional – e em determinadas regiões, como o Nordeste, atendem a mais da metade da demanda energética industrial e residencial.
Além disso, grande parte da população brasileira faz uso de plantas medicinais para tratar seus problemas de saúde.
Para não prolongarmos mais o assunto, cabe resgatar um trecho do discurso do cacique Seattle, da etnia dos Duwamish, proferido diante de Isaac Stevens, governador do território de Washington em 1856, que evidencia de forma precisa nossa relação para com a Terra: “De uma coisa sabemos: a terra não pertence ao homem. É o homem que pertence à terra. Todas as coisas estão interligadas entre si. O que fere a terra, fere também os filhos e filhas da Mãe Terra”.
*Marcus Eduardo de Oliveira é economista com especialização em Política Internacional e mestrado em Estudos da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP). É professor de economia do UNIFIEO e da FAC-FITO, em Osasco/SP. Autor dos livros 'Conversando sobre Economia' (Editora Alínea), 'Pensando como um economista' (Editora EbookBrasil) e 'Humanizando a Economia' (Editora EbookBrasil – livro eletrônico). Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br
Estudo da ONU mostra que um quarto dos homens já estuprou uma menina ou uma mulher
Estupro, fruto da desigualdade entre os sexos(Foto: Arquivo)
Por Kurt Haendrick*
Na semana passada, um tribunal indiano condenou à morte quatro homens pelo estupro e assassinato de uma estudante dentro de um ônibus, em dezembro de 2012. O assassinato da jovem de 23 anos desencadeou semanas de protestos em todo o país e levou ao endurecimento das leis contra violência sexual na Índia. Na mesma semana da sentença, foi publicado um estudo da ONU sobre violência contra mulheres na região.
O estudo é baseado em entrevistas anônimas com mais de 10 mil homens, com idades entre 18 e 49 anos, em Bangladesh, Camboja, China, Indonésia, Sri Lanka e Papua Nova Guiné. Um em cada dez homens admitiu ter forçado relações sexuais com uma mulher que não é a sua parceira. Um em cada quatro assumiu ter estuprado, ao menos uma vez, sua esposa ou namorada.
Em entrevista à Deutsche Welle, Emma Fulu, autora do estudo, falou que consequências penais, por si só, não são suficientes, como mostram os números de violência generalizada contra as mulheres. Ela trabalha para a iniciativa Parceiros da Prevenção, um programa de pesquisas de várias agências das Nações Unidas para a prevenção da violência de gênero na região da Ásia-Pacífico.
Eis a entrevista:
Qual a dimensão do problema de estupro na Ásia?
O estupro é um problema global, não só na Ásia, mas em todo o mundo. O estudo mostra que um quarto dos homens já estuprou uma menina ou uma mulher. Dependendo da região, essa proporção pode variar entre 10% e 62%.
Embora os resultados do estudo confirmem que existe um problema sério em relação ao estupro, ele também mostra que há muitos homens que não são violentos. Muitos homens na Ásia e no resto do mundo são pacíficos e respeitam o sexo oposto. São exatamente esses homens que devemos apoiar.
Quais são os fatores responsáveis pela violência contra as mulheres?
O estudo mostra que existem inúmeros fatores que levam os homens a cometerem atos de violência contra mulheres. Isso inclui a desigualdade entre os sexos, a concordância com certos padrões de comportamento entre os homens que aceitam a violência. Além disso, existem experiências individuais desses homens com a violência, principalmente na infância.
No geral, o estudo encontrou evidências entre os próprios homens de que eles são violentos em relação às mulheres porque não as consideram como iguais a eles. Ou eles mesmos foram vítimas de abuso. Muitos se orgulham de sua resistência física, de sua capacidade sexual e que são, em geral, superiores às mulheres.
Quão confiáveis e representativos são os resultados do estudo?
Acreditamos que os resultados desse estudo são confiáveis e representam com precisão a frequência em que o estupro ocorre nas regiões onde a pesquisa foi realizada. O estudo utilizou padrões reconhecidos internacionalmente sobre a violência contra mulheres, que foram concebidos para que os resultados sejam os mais precisos possíveis.
As perguntas feitas aos homens, por exemplo, não eram questões generalizadas sobre "violência" ou "estupro", mas eles foram questionados sobre ações e padrões de comportamento concretos. Além disso, inovações tecnológicas foram utilizadas para aprimorar a exatidão do estudo. Finalmente, os resultados obtidos com os homens foram comparados a pesquisas feitas com mulheres em relação à experiência que elas tiveram como vítimas.
Por que participantes desses determinados países foram selecionados para o estudo?
Os locais do estudo foram selecionados para refletir a diversidade da região da Ásia- Pacífico. Países do sul e do leste asiático, bem como da região do Pacífico foram selecionados – entre eles duas antigas regiões de conflitos.
No geral, selecionamos países onde até agora somente poucos estudos do gênero haviam sido realizados.
Para garantir uma seleção aleatória, os locais do estudo foram divididos em diferentes áreas e domicílios, e então homens desses grupos foram aleatoriamente selecionados para participar das entrevistas. Ou seja, em cada região, cada homem tinha a mesma probabilidade de ser selecionado para o estudo.
Qual é a mensagem central do estudo?
A principal mensagem é que a violência contra as mulheres é evitável. O estudo confirmou a importância da prevenção – junto a uma resposta eficaz e abrangente contra essa violência. As verdadeiras causas da violência devem ser abordadas, para que ela possa ser evitada antes que aconteça. O estudo mostra que se deve combater a desigualdade entre os gêneros, promover relações não violentas e pôr um fim ao abuso infantil.
Se olharmos para a idade em que alguns homens passam a lidar com a violência, percebemos que temos que começar a prevenção mais cedo com os meninos. Precisamos mostrar a eles modelos positivos de como um homem deve se comportar.
Precisamos de esforços mais contundentes para prevenir a violência contra as mulheres – esse é o nosso principal conselho.
A proliferação da violência mostra que a ação penal não é suficiente. Os resultados revelam que a maioria dos fatores que geram a violência por parte dos homens pode ser modificada. O estudo aponta novas dicas dos próprios homens sobre o que eles devem mudar e onde essas mudanças precisam acontecer.
O estudo constatou nos países estudados que os estupros ocorrem mais entre parceiros íntimos do que com outras mulheres. Como você interpreta esse resultado?
Esse resultado é importante porque mostra como o estupro conjugal tem que ser tratado como ato criminoso. Em muitos países da região, o estupro dentro do casamento não é considerado um crime. Para a maioria dos homens que cometeram esse tipo de estupro, não houve consequências legais.
Há uma cultura da impunidade e, ao mesmo tempo, uma carência de uma forte estrutura legal. Mas o endurecimento das leis não deve ser o único meio de pôr um fim à violência contra as mulheres. Devemos trabalhar também para mudar uma determinada mentalidade – a de que um homem tem o direito sobre o corpo de uma mulher mesmo sem o seu consentimento. Precisamos promover a sexualidade saudável e não violenta.
Por que tantos casos de estupro não são reportados na Ásia?
Estudos em todo o mundo têm mostrado que o estupro está associado à vergonha e ao estigma. Assim, muitas das vítimas não querem que os atos de violência realizados contra elas se tornem públicos. Os sistemas judiciários não foram criados para as mulheres que foram vítimas de estupro. Muitas vezes existe pouco, ou nenhum, suporte.
Isso significa que as mulheres não recebem o apoio jurídico, médico ou psicológico necessário, o que é essencial para lidar com o estupro de forma efetiva – o que também inclui a perseguição judicial do estuprador.
O que os países asiáticos precisam fazer para combater a violência de forma eficaz?
Não se trata apenas dos países asiáticos. Com base nos resultados do estudo, recomendamos o reforço na prevenção e a criação de telefones de emergência.
A violência contra a mulher precisa ser combatida através de programas que mobilizem a sociedade e que contem com a participação de pessoas com influência cultural em seus países.
Temos que trabalhar para mostrar aos homens como eles podem se tornar homens de uma maneira amorosa e não violenta. Precisamos também combater a violência infantil e promover famílias saudáveis. E, finalmente, devemos garantir a plena igualdade de direitos para mulheres e meninas e eliminar a descriminação de gênero.
Estupro - Veja o vídeo.
* A reportagem de Kurt Hendrick foi divulgada pela Deutsche Welle
Fomos deixando de lado práticas que nos vinham do cediço iberismo que forjou nosso Estado, em particular no Direito Administrativo, no qual dominava inconteste o princípio da discricionariedade do Poder Executivo (...) afirmou-se nesses anos a primazia do paradigma do direito público, destronando antiga hegemonia do Código Civil.
'Na esteira desses novos processos, passamos a conhecer uma nítida convergência do nosso sistema de civil law com o de common law, que, aliás, transcorre em escala universal.'
Por Luiz Werneck Vianna
"Era no tempo do rei" - com essa frase mágica Manuel Antônio de Almeida inicia seu romance Memórias de um Sargento de Milícias, cativando prontamente o leitor para conhecer as desventuras do seu herói, Leonardo Pataca, e outros personagens típicos da vida popular das primeiras décadas do século 19, como milicianos, meirinhos, barbeiros, ciganos, mulheres de má vida. Toda uma galeria de homens comuns treinados nas artes de uma difícil sobrevivência sem perder o gosto pelas festas e pela convivência bem-humorada entre eles.
O motivo dessa alusão à obra tão celebrada não se prende, contudo, ao protagonista da narrativa, mas a uma simples coadjuvante, dona Maria, mulher de meia-idade, gorda, mas bem afeiçoada, compadecida dos pobres, a quem atendia com os recursos que lhe sobravam naquele meio de escassez, e que nutria uma paixão sem remédio pelas demandas judiciais. Movida por esse sentimento que dominava a sua vida, saía de uma demanda para entrar em outra, conhecedora de leis e de regulamentos, provavelmente dominando a dialética incerta dos esotéricos embargos infringentes, embora fosse certo ser versada nas Ordenações Manuelinas. Os processos e as demandas judiciais intermináveis animavam a sua vida, como hoje parecem dominar a nossa.
Com efeito, somente por peripécias do nosso código genético cultural pode ter aflorado, assim, de repente, a informação desse gosto pelas manhas e pelos jargões dos leguleios, típicos do decadentismo ibérico, que nos manteve, numa tarde de quarta-feira, aferrados à TV durante duas horas e meia - tempo bem mais longo que o de uma partida de futebol, com o qual folgamos - para ouvirmos as razões do decano do Supremo Tribunal Federal (STF) a fim de admitir os embargos infringentes reclamados pelos réus (da Ação Penal 470, conhecida como mensalão). A hermenêutica do decano cobriu leis atuais e de antanho, jurisprudências, regimentos, não lhe faltando revelar as motivações implícitas do que jazia oculto nas lacunas da manifestação da vontade do legislador, vazios desejados por ele ou meramente fortuitos - quem há de saber?
Dona Maria perdeu essa sessão do Desembargo do Paço, que lhe faria delícia, pois ali se reverenciava o objeto do seu culto, um processo interminável com vãos e desvãos, hirto em sua integridade de coisa em si, apartado do mundo, cerrado na sua lógica interna alheia aos profanos e manipulado por sacerdotes convictos dos seus atos litúrgicos. Deveras, dignos de admiração nossos vínculos com a Ibéria profunda, ainda presente nas nossas instituições e nas narrativas que nos chegam delas, tais como os que foram expostos pela TV diante de grande audiência, que não arredou pé e a tudo assistiu bestificada, no julgamento da admissibilidade dos embargos infringentes.
O público era o mesmo que há poucos meses, nas jornadas de junho, aderiu com entusiasmo, nas ruas, aos protestos da juventude em favor de direitos, de maior participação na vida pública e por transparência nas ações do Estado. Mas entre os dois episódios há um mundo a separá-los, quando de um dos lados das margens até se ouvem declarações, com dicção forte, de que não se devem considerar as vozes que ecoam do outro.
De fato, em matéria penal, o garantismo nos procedimentos judiciais, como se diz em jargão, protege a todos e se constitui num valor a ser defendido, com a óbvia ressalva de que ele não se pode prestar a formalismos e a chinesices que desservem à justiça e penalizam a sociedade. Sem ponderação razoável, esse meritório princípio pode tornar-se uma política de alto risco na administração da justiça.
Por outro lado, tenha-se presente que a Constituição que aí está, prestes a comemorar 25 anos de bons serviços ao País, foi concebida para ter uma natureza de obra aberta, admitindo sua filiação à corrente doutrinária do constitucionalismo democrático. Sob essa inspiração, recriou o nosso Direito e suas instituições no sentido de que fossem capazes de acolher a voz das ruas, quer no exercício do controle de constitucionalidade das leis, nas ações civis públicas, quer nos inúmeros conselhos que criou com o intuito de incorporar os cidadãos na gestão de matérias afetas ao interesse público.
Ao longo desse período de implementação, pela ação da jurisprudência e de doutrinadores, fomos deixando de lado práticas que nos vinham do cediço iberismo que forjou nosso Estado, em particular no Direito Administrativo, no qual dominava inconteste o princípio da discricionariedade do Poder Executivo. Sobretudo, afirmou-se nesses anos a primazia do paradigma do direito público, destronando antiga hegemonia do Código Civil. Na esteira desses novos processos, passamos a conhecer uma nítida convergência do nosso sistema de civil law com o de common law, que, aliás, transcorre em escala universal.
Doutrinadores influentes, como Luís Roberto Barroso, dedicam páginas simpáticas a políticas judiciais consequencialistas e à obra do notável filósofo do Direito Ronald Dworkin, que nos deixou recentemente e concebeu o Direito sob o modelo de integridade. Muito além de ouvir as ruas, às quais o hoje ministro Barroso é refratário, Dworkin recomendava, a fim de assegurar uma narrativa coerente e progressiva do Direito, que se ouvissem as vozes da história da sua comunidade, às quais o ministro também foi surdo, para que elas se fizessem presentes nas decisões judiciais, em particular nos casos difíceis - a Ação Penal 470 é um caso difícil.
O pleno do STF em sua composição original, ao julgar a Ação Penal 470, abriu com coragem o baú dos ossos da nossa História, remota e presente; a dos embargos infringentes nos devolve aos alfarrábios da dona Maria das páginas de Manuel Antônio de Almeida. Resta ver os próximos capítulos e como se comportam as ruas buliçosas do Leonardo Pataca.
O Estado de S.Paulo, 29-09-2013.
*Luiz Werneck Vianna é sociólogo.
Clareameto de Tiras “Strip” – um grande produto ou uma farsa completa?
Você provavelmente já ouviu falar de branqueamento dentário de tiras e suas maravilhas de clareamento. Algumas pessoas juram que o clareamento dental com tiras é a melhor maneira de conseguir um sorriso deslumbrante . Ainda melhor do que outros produtos debranqueamento dentário profissionais, eles podem dizer .
Mas isso é verdade? Clareadores de tiras podem superar outros produtos, como clareamento dental com gel , branqueamento dentário de moldeiras, ou sistemas similares ?
O Branqueamento de tiras “Strip” – Como Funciona
Branqueamento Dental de tiras são um sistema de clareamento dental exclusivo. Eles são tiras claras de plástico revestido com peróxido de carbamida ( geralmente em torno de 6-10% de concentração) , e são projetados para ser usado sobre os dentes duas vezes por dia , para uma média de 30 minutos cada sessão A parte superior da tira tem um design especial assim como para os dentes inferiores . Eles são fáceis de aplicar e são pouco perceptível para os outros (e , portanto, pode ser usado praticamente qualquer hora do dia) .
O Branqueamento De Dentes com Strip – é eficaz?
Como mencionado, um clareamento dental de tira é projetado para caber diretamente nas frentes de nossos dentes sem causar qualquer desconforto oral ou dor na mandíbula ( ao contrário de outros produtos com os quais esses sintomas são frequentemente associados – mais sobre isso depois).
A solução de branqueamento usado em um clareamento dental de tira é uma solução de clareamento eficaz. As tiras podem tornar os dentes mais brancos em uma questão de dias.
No entanto , há um problema sério chamado de ” distribuição” que não é geralmente mencionado pelos defensores do clareamento dental de tira . Striping é quando as áreas entre os dentes – os cantos e recantos – não são atingidos porque tiras de clareamento só se conecta com as frentes de nossos dentes.
Imaginem pintar uma cerca branca marrom , mas não mergulhar o pincel entre as fendas . O resultado final será uma cerca branca com tiras de marrom . Esta é a forma como os dentes muitas vezes parecem depois de usar tiras de clareamento .
Assim, enquanto eles podem trabalhar , ” striping ” não é definitivamente algo em favor do produto.
O Branqueamento Strip – alternativas ?
Há alternativas caseiras de branqueamento. Um seria branqueamento dentífricos . No entanto, como cremes dentais passam muito pouco tempo sobre os dentes , principalmente após a lavagem , eles não são altamente recomendados .
Outra seria a utilização de um recipiente de branqueamento dos dentes. Alguns dizem modeiras podem ser um sistema mais superior , pois permitem que os dentes sejam completamente submerso na solução de branqueamento dos dentes. No entanto, outras pessoas se queixam de que as moldeiras são volumosos e desconfortáveis. Isto é verdade para as moldeiras genéricas que são concebidos como one-size -fits -all. Os melhores são aqueles feitos sob medida para atender seus dentes. Eles são muito mais confortáveis.
Então, é claro , você tem o seu dentista . Nada supera a atenção profissional de um dentista e este é provavelmente o melhor recurso de todos.
Dr. Renato Vanzella Vicente - Cirurgião-Dentista com mais de uma década de experiencia em Protese sobre implantes ele é responsavel pelas políticas e metas para a prática e garante que todas as normas sejam cumpridas na Clínica de Implantes Dentários Maximplante.
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Prefeito Edivaldo Holanda Júnior anuncia 41 projetos para São Luís
“AVANÇA SÃO LUÍS” »Prefeito Edivaldo Júnior anuncia 41 projetos para São Luís
Edivaldo Holanda Jr. diz que o primeiro momento da administração foi para arrumar a casa, agora é para agir
O prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PTC) anuncia na próxima quarta-feira (4) o Programa Avança São Luís. O pacote de ações prevê obras a curto e médio prazo que serão executadas nos próximos 15 meses. A solenidade será realizada na Associação Comercial do Maranhão (ACM), localizada na Praça Benedito Leite, a partir das 9h. As 41 ações do Programa Avança São Luís beneficiarão toda a cidade e efetivarão a entrega de 230 produtos para a população da capital.
As iniciativas, de forte relevância estratégica, têm entregas previstas para 2013 e 2014. As ações nas diversas áreas de oferta de serviços públicos, como em educação, saúde, lazer e infraestrutura, têm foco nos principais problemas da cidade e nos maiores anseios da população.
“No primeiro momento nós tivemos a fase de organizar a casa, devido à situação que nós encontramos a Prefeitura. Ainda temos muitas dificuldades, mas Deus tem abençoado muito e dado condições para a fase de ação. Vamos lançar nosso plano de investimentos para este final de 2013 e o ano de 2014 com uma série de obras que começarão em São Luís”, disse o prefeito Edivaldo Holanda Júnior.
As ações serão realizadas com recursos disponíveis na Lei Orçamentária Anual (LOA) 2013/2014 ou mobilizáveis no período. Todos os investimentos poderão ser acompanhados pela população através da divulgação de informações periódicas sobre a evolução dos projetos e das metas. As informações também serão disponibilizadas em um portal construído especificamente para o Programa Avança São Luís, com a estruturação das obras de forma detalhada, com informações sobre metas, prazos e principais etapas.
Até o final deste ano, a meta da Prefeitura é que 23% das ações sejam entregues à população. Na área da saúde, o Programa Avança São Luís contempla ações como a construção, ampliação, reforma e eficientização de unidades e serviços de saúde. Na área da educação, está prevista a expansão das escolas da rede municipal. Existem também projetos que possibilitam a geração de emprego e melhorias na estrutura de feiras e mercados.
A assistência social também está entre as prioridades do Programa, com o reforço dos centros de referência, que anualmente atendem em média cerca de 50 mil pessoas. O setor de trânsito e transportes receberá investimentos para melhorar a oferta dos serviços oferecidos à população e a mobilidade urbana. Obras de infraestrutura também compõem o Programa, com a garantia do direito à moradia, ações de pavimentação, drenagem, recuperação e limpeza das vias. O Programa Avança São Luís traz também intervenções na área ambiental, lazer, voltadas para o desenvolvimento do setor turístico, Centro Histórico e cultura.
A proposta prevê ainda o lançamento de uma nova carteira de investimentos estratégicos, com foco em novas entregas para 2014/2016, que irão manter o estoque de investimentos em curso e assegurar o cumprimento das metas de governo.