Páginas

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Nossa SenhoraDezembro 31 2010
Trégua de Natal

Era noite de Natal de 1944. O menino e a mãe moravam em uma cabana na Alsácia, perto da fronteira Franco-alemã. O pai fora convocado para o Corpo de Bombeiros da Defesa Civil da cidade, que distava seis quilômetros.
Enviar o filho e a esposa para a floresta lhe tinha parecido uma boa ideia. Acreditou que ambos estariam a salvo.
Então, bateram à porta. A senhora foi abrir. Do lado de fora, como fantasmas contra as árvores cobertas de neve, estavam dois homens de capacetes de aço.
Um deles falou em uma língua estranha. Apontou para um terceiro vulto que jazia na neve.
Rapidamente, a mulher entendeu. Eram soldados americanos. Difícil dizer se eram amigos ou inimigos.
Eles estavam armados e poderiam ter forçado a entrada. No entanto, estavam ali parados, suplicando com os olhos.
Nenhum deles compreendia o alemão. Mas um deles entendia o francês.
A um sinal da mulher, entraram na casa conduzindo o ferido. O filho foi buscar neve para esfregar nos pés azuis de frio de todos eles.
O ferido estava com uma bala na coxa. Havia perdido muito sangue.
Eram três meninos grandes, de barba crescida: Gary, Fred e Mell.
Ema pediu ao filho que fosse buscar Schultz, o galo. Ela o estava guardando para quando o marido voltasse para casa. Talvez no Ano Novo. Mas agora Schultz serviria a um objetivo imediato e urgente.
Dali a pouco o aroma tentador do galo assado invadia a sala.
O menino punha a mesa quando bateram de novo à porta. Esperando encontrar mais americanos, depressa ele foi abrir.
O sangue lhe gelou nas veias. Lá estavam quatro soldados usando fardas muito conhecidas, depois de cinco anos de guerra. Eram alemães.
A pena por abrigar soldados inimigos era crime de alta traição. O garoto ficou parado, gélido, sem reação.
Ema se aproximou. Com calma nascida do pânico, ela desejou Feliz Natal.
Podemos entrar? - Perguntou o cabo alemão. Era o mais velho deles: 23 anos. Os outros tinham somente 16 anos.
Sim. - Falou Ema. E também poderão comer até esvaziar a panela. Mas temos três convidados que vocês poderão não considerar amigos.
Hoje é dia de Natal e não vai haver tiroteio. Coloquem todas as armas sobre a pilha de lenha.
Os quatro ficaram olhando para ela, indecisos.
Nesta noite única, - ela continuou - nesta noite de Natal, vamos esquecer a matança. Afinal de contas, vocês todos poderiam ser meus filhos. Hoje à noite não há inimigos.
Os soldados obedeceram. Entraram.
Os americanos também entregaram as armas, que foram parar em cima da mesma pilha de lenha.
Alemães e americanos se aglomeraram, tensos, na sala apertada.
Sem deixar de sorrir, Ema providenciou lugar para todos se sentarem.
Ela aumentou a ceia com aveia e batatas, um pão de centeio.
Um dos alemães examinou o ferido. A calma foi substituindo a desconfiança.
Com os olhos cheios de lágrimas, Ema pronunciou a oração: Senhor Jesus, Amigo e Mestre, sê nosso hóspede.
Em volta da mesa, havia lágrimas também nos olhos cansados da luta daqueles soldados. Meninos outra vez, uns da América, outros da Alemanha, todos longe dos seus lares.
No dia seguinte, eles tomaram das armas e cada grupo partiu para um rumo diferente, depois de terem se apertado as mãos em despedida.
Então, Ema entrou. Abraçada ao filho, abriu o Evangelho e leu na página da história do Natal, o nascimento de Jesus, a chegada dos magos vindos de longe.
Com o dedo ela acompanhou a última linha: ... E partiram para sua terra por outro caminho.

Proponhamos nosso armistício particular. Isso mesmo. Pensemos em alguém com quem nos tenhamos desentendido, magoado, ferido.
Agora é a hora de estender a mão, de perdoar, de abraçar.
Em nome de um Menino que veio pregar a paz e o amor.
Pensemos nisso! Mas pensemos agora

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivo do blog

Pesquisar este blog