terça-feira, 4 de março de 2014
Lobby Evangélico na política anti-gay da África
As novas leis de Uganda punem a prática do homossexualismo até com a prisão perpétua.
Por Lev Chaim*
O presidente ugandense, YoweriMuseveni, depois de hesitar por algum tempo, acabou por assinar uma lei que pune o homossexualismo em território nacional, até mesmo com a prisão perpétua.Lei semelhante já havia sido também aprovada na Nigéria. É como se as pessoas tivessem o poder de escolha em ser ou não ser gay.
Pelos jornais televisivos, pode-se apreciar a veia sadista de Museveni, quando ele retirou os óculos e, com sorriso cínico nos lábios e olhos,disse: “há muitas mulheres bonitas; os homens não necessitam de fazer sexo com outros homens”. Ficou claro que ele estava sob pressão política e dos lobbies de evangélicos conservadores norte-americanos.
Esta descoberta foi feitapela professora e pesquisadora norte-americana HaleyMcWen, da Universidade Witwatersrand, de Johannesburg,em entrevista dada ao jornal holandês NRCHandelsblad.Ela afirmou ter encontrado rastros dos evangélicos norte-americanos conservadores por todos os lados, em apoio à política anti-gay da África. E ela disse ainda que talvez isto esteja ocorrendo pela perda de influência deles na política norte-americana.
Vamos desalinhavar esses achados de HaleyMcWen. O pastor evangélico sul-africano ErrolNaidoo começou a sua campanha contra o homossexualismo na África do Sul, quando o parlamento do país reconheceu a união civil entre pessoas do mesmo sexo, em 2006. Em seguida, Naidoopartiu para Washington onde fez um estágio de seis meses no “Family ResearchCouncil”, conhecido também pelo seu forte lobby anti-gay na África.
De volta à África do Sul, em 2007, Naidoo criou um instituto próprio: “Family PolicyInstitute for theGloryofGod”. Apesar dele ter negado o apoio financeiro dos conservadores evangélicos norte-americanos, este seu instituto carrega o mesmo nome do instituto em Washington. E tem mais: este órgão de Washington luta,até hoje,contra a lei que proíbe o envio de jovens norte-americanos para terapia, quando eles apresentam sentimentos homossexuais. Pasmem, pois é isto mesmo que leram!
O pastor Naidootambém é apoiado pelo “Cristian Action Network”da África do Sul, que tem estreitos laços de cooperação para com uma das correntes evangélicas mais conservadoras dos Estados Unidos, a “GreatComissionChurchMovement”, que luta pela aprovação de leis anti-homossexuais em mais de oitenta países, entre eles, Uganda.Tudo isto está na tese da professora HaleyMcWensobre o assunto. E o Brasil, estaria incluído entre aqueles países?
Organizações que lutam pelos direitos dos homossexuais temem que esta nova lei possa abrir o caminho para uma caça às bruxas em Uganda. O popular tabloide ugandense “The RedPepper”, abriu a sua primeira página com a seguinte manchete: “Expostos – a lista com os 100 mais notórios gays do país”. Alguns nomes estavam também acompanhados de fotos.
Vários projetos holandeses de ajuda ao desenvolvimento em Uganda não foram cortados para não prejudicar diretamente a população. Mas o principal deles, com um orçamento de 7 milhões de euros, para ajudar a montar o aparato judicial ugandense, sim. Segundo a ministra holandesa do desenvolvimento, “não se pode trabalhar com leis que não aprovamos”. E a Holanda anunciou que irá “facilitar” pedidos de asilo político para homossexuais ugandenses.
O governo alemão também cortou projetos com Uganda e o governo em Washington está examinando a questão. O Banco Mundial, por sua vez, cortou um projeto conjunto com o governo ugandense no campo da saúde, orçado em 65 milhões de euros, segundo foi anunciado à imprensa.
Diante do fato, o próprio Vaticano e até mesmo o papa poderiam se pronunciar sobre o assunto já que cidadãos ugandenses correm o perigo de serem justiçados pela barbárie de ignorantes, tal qual já ocorreu com rapazes nigerianos há bem pouco tempo, pela simples suspeita de serem homossexuais.
O arcebispo sul-africano Desmond Tutu foi uma das primeiras vozes a protestar contra essas leis anti-homossexuais e contra o silêncio de seu governo sobre o assunto. “Temos que protestar contra as atitudes tirânicas daqueles governos. Não quero orar para um Deus que odeia homossexuais”, afirmou o arcebispo.
Como a história nos recorda, não podemos virar pro lado e evitar de ver a verdade! Parafraseando o grande autor sul-africano, Nobel de literatura de 2003, J.M. Coetzee, em seu romance “O Homem Lento”, eu diria: “não vamos sofrer uma acesso de pranto enxuto”. Não resolve nada. Vamos estimular o diálogo e aumentar a pressão para anular a influência desses falsos arautos que dizem lutar em nome de Deus.
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou 20 anos para a Rádio Internacional da Holanda, país onde mora. Escreve às terças-feiras no Domtotal.
Postado por Pe Geovane Saraiva às 03:38
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