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domingo, 8 de junho de 2014

Ó MÃE, A QUE ESTADO DEPLORÁVEL ESTOU REDUZIDO!! - Liturgia diária , 08 de junho de 2014

domingo, 8 de junho de 2014

 
Ó MÃE, A QUE ESTADO DEPLORÁVEL ESTOU REDUZIDO!

Que eu possa ao menos, que eu possa ver meu coração se partir de dor em meu peito! Esse coração pérfido que violou todos os direitos, atacou todas as leis, calcou aos pés todos os deveres! Possam meus olhos derramar grandes regatos de lágrimas, e essa lágrimas tornarem-se o meu pão de cada dia! Possa minha alma se consumir, evaporar-se em gemidos e suspiros; que eu possa morrer de dor! Contudo, infelizmente! A que triste condição o pecado me reduziu! Fui rápido para me lançar no precipício, e estou como acorrentado quando dele preciso sair. Fui ágil para dissipar a herança de meu pai, e sou lento e inerte para reagrupar seus fragmentos. Fui onipotente para cometer um mal infinito, e sou a própria fraqueza e a covardia para detestá-lo. Fui, para dizer tudo em uma única palavra, fui grande para pecar, e sou menos que o nada para chorar meu pecado

O encanto da iniquidade foi suficiente para me fazer beber a taça da morte até ficar bêbado; e agora os doces e poderosos atrativos da graça mal são suficientes para me tirar de minha letárgica sonolência. Em mim o feitiço do vício é tão forte, que é com dificuldade, sim, é com dificuldade que sinto o império vitorioso dessa graça, que, sem violentar a vontade, a acaricia tão suavemente, que ela amolece por seus toques secretos os corações mais duros e triunfa sobre os mais obstinados. Deus! A que estado deplorável estou reduzido! Que partido, que esperança me resta, senão me lançar nos braços de minha Mãe, abraçar com força seus pés sagrados, beijá-los com toda a efusão de meu coração, irrigá-los com minhas lágrimas, e suplicá-la, por meus gemidos e meus soluços, para que ela tenha piedade de um infeliz?

Minha causa estará ganha, se ela permitir apenas que eu me prosterne aos seus pés. Seria possível que ela não sentisse despertar em si toda a ternura de seu coração materno, à vista de uma miséria tão grande? Fui bárbaro, pérfido, parjuro, ingrato, mais do que se pode imaginar. Contudo seria possível que minhas ingratidões pudessem lutar com sua misericórdia, e não somente lutar, mas vencê-la e ultrapassá-la?  Não. Isso é conhecer muito pouco minha Mãe. Se eu souber me desculpar por minhas lágrimas, seu terno coração, sim, seu próprio coração saberá encontrar as razões mais engenhosas para se compadecer de mim. Assim, ó Mãe toda bela, Mãe querida, Mãe bem-amada, amável, ó amabilíssima Mãe, assim, recorro a vós, invoco-vos, reclamo-vos, e, se estou certo, não somente não me rejeitareis, mas, ao contrário, ficareis feliz em me ver acorrer sob as asas de vossa proteção. Sois, com efeito, esta Montanha da casa do Senhor, predita pelo profeta, preparada desde o início dos séculos, elevada na plenitude dos tempos para além do topo das mais altas montanhas, onde todas as nações devem acorrer.

Estais acima das demais montanhas; pois, assim como ultrapassas em grandeza e em dignidade os anjos e os santos, da mesma forma os ultrapassa em compaixão e em clemência. É portanto a vós que recorrem todos os povos para obter com abundância a misericórdia e a graça. Sois essa Cidade fortificada, na qual, de acordo com São Jeremias, todos os miseráveis devem se render e permanecer em repouso, pois lhes basta se aproximar de vós para serem socorridos

Vosso coração compassivo saberá advinhar suas misérias, ainda que eles sejam incapazes de explicá-las. Enfim, sois o sublime, o augusto Trono cantado por Davi, que o próprio Deus se preparou desde o incío das eras para aí derramar abundantemente os tesouros inesgotáveis de sua misericórdia. Verifiques então, augusta Virgem, verifiques os oráculos dos profetas, entendas as sombras e as imagens sob as quais eles vos designaram aos séculos futuros, e consoles a esperança do mais miserável entre todos os miseráveis, que, encorajado por suas promessas, pede aos vossos pés compaixão, graça, misericórdia

Serias inexorável apenas para mim, enquanto que sois doce e clemente com todos os outros?… Já faz muito tempo, vos diria, segundo o pensamento do santo bispo de Turim, já faz muito tempo que minha pobre alma jaz enferma, agonizante e semi morta no leito desse corpo miserável, acorrentado pelos sentidos que, arrastando seu grabato às vezes para um lado, às vezes para o outro, o golpeiam com violência

O que vos custaria renovar hoje o milagre da piscina probática!? Faças isso então, ó a mais bela de todas as virgens! Mande essa alma, já expirante, recuperar suas primeiras forças, levantar-se de seu leito e, no lugar de a ele ficar acorrentada, vencê-lo generosamente e caminhar cheia de vida no caminho da justiça

DE CONCILIIS, Louis-Marie. Marie, étoile de la mer. Tradução de Robson Carvalho. Paris, Gaume Frères et J. Duprey, 1873

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