Páginas

terça-feira, 10 de junho de 2014

terça-feira, 10 de junho de 2014

A grande contradição da Copa dos bilhões

Juliano Paiva*
A Copa do Mundo e dos bilhões vai começar na próxima quinta-feira (12). O maior evento esportivo do planeta tem cifras dignas de PIB`s de alguns dos países participantes do torneio.

O Mundial do Brasil vai bater todos os recordes, tanto de gastos quanto de receita. A Fifa, por exemplo, nunca teve uma receita tão grande. A marca deve atingir US$ 4,5 bilhões ou R$ 10,1 bilhões. Por outro lado, a entidade maior do futebol também gastará como em nenhuma outra Copa: US$ 2 bilhões ou R$ 4,5 bilhões.

Para nós brasileiros, a Copa do Mundo gerou um gasto de R$25,6 bilhões. Desse montante do dinheiro público, os principais investimentos são: 33,6% (R$ 8,6 bilhões) para obras viárias de transporte público; 27,7% (R$ 7,09 bilhões) para construção e reforma de estádios; e 26,5% (R$ 6,78 bilhões) para os aeroportos.

boa notícia é que parte desse gasto será compensando imediatamente com os turistas, com cifras igualmente bilionárias. Entre brasileiros e estrangeiros, 3,7 milhões de pessoas estarão em trânsito pelo país e os gastos desses turistas devem chegar a R$ 6,7 bilhões segundo estimativas. Dá quase para “pagar” os estádios. 

Mas a grande contradição, acredite, está relacionada justamente às maiores estrelas da Copa do Mundo: os jogadores. Só a Seleção Brasileira, a tão falada nova Família Scolari, tem valor estimado de R$ 1,4 bilhão. Acima da Seleção Canarinho somente a Alemanha (R$ 1,7 bilhão) e a Espanha (R$ 1,9 bilhão).

Esses e outros elencos contam com atletas com salários milionários. Só para citar um exemplo vamos a Lionel Messi. O argentino, jogador do Barcelona, recebe 20 milhões de euros por ano, cerca de R$ 60,5 milhões. Uma Mega Sena! Eles e outros milionários da bola irão mostrar todo o seu talento aqui no Brasil, país onde a maioria esmagadora dos jogadores profissionais simplesmente não tem emprego durante todo o ano.

Tem clube brasileiro que encerra suas atividades no ano com dois meses e meio. Outros conseguem chegar a quatro meses. Ai as equipes são desmontadas e uma leva de desempregados ganham as ruas. E esses jogadores ganham entre um e dois salários mínimossomente.

A 20ª Copa do Mundo vai acontecer no país comandado por uma entidade, a CBF, que simplesmente não respeita a tal data Fifa, na qual os campeonatos nacionais param para que as seleções entrem em campo e os clubes, que são os que pagam os jogadores, como Messi, da Argentina e do Barcelona, e Victor, do Brasil e Atlético, não fiquem sem seus principais jogadores em momentos muitas vezes decisivos.

É o conhecido caótico calendário do futebol brasileiro que pune 583 dos 684 clubes profissionais do país. 85% dos clubes não tem um calendário anual. É sabido, por exemplo, que os times da Série A tem um excesso de partidas anualmente, enquanto os demais jogam muito pouco ao longo de 365 dias.

Esse é o calcanhar de Aquiles do nosso futebol, do país que começará a receber a Copa do Mundo no dia 12. Está claro que o bolo não é igualmente distribuído dentro do próprio meio quando o assunto é futebol brasileiro. Enquanto isso não for resolvido, teremos uma Copa dos bilhões de dólares e de euros e dezenas de campeonatos de réis por todo o território nacional.

Juliano Paiva escreve toda segunda-feira no DomTotal.com

é jornalista formado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente editor do Dom Total, Paiva trabalhou nos jornais O Tempo, Hoje em Dia e no extinto Diário da Tarde, tradicional periódico de Belo horizonte fechado pelos Associados Minas em julho de 2007. No DT, começou como repórter da editoria Cidades, mas, na época do fechamento do jornal, fazia cobertura esportiva. Também foi responsável pela cobertura de jogos do Campeonato Brasileiro para a Folha de São Paulo no segundo semestre de 2007. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivo do blog

Pesquisar este blog