O templo do bom-gosto francês
Remodeladas e com mais de 100 anos, as Galerias Lafayette ainda são o símbolo do luxo 'made in France'.
Galeria Lafayette: símbolo da modernidade parisiense (Foto: Divulgação) |
Por Marco Lacerda*
Quem não sente uma pontinha de desejo de fazer as compras de Natal nas Galerias Lafayette, o templo parisiense do consumo com sua cúpula centenária ocupado pelas lojas mais famosas do mundo, tudo com luxo ‘made in France’?
Remodelada pelo prêmio Pritzker de Arquitetura Rem Koolhaas, esta empresa familiar centenária, localizada no boulevard Haussmann, exibe nova iluminação interior, criada por Yan Kersalé, com foco na cúpula e nos balcões internos, conferindo uma tonalidade especial ao lendário lobby central por onde passam pelo menos 150 mil clientes por dia.
A Yan Kerselé, conhecido na Espanha pela iluminação da Torre Agbar, em Barcelona, foi confiada também a tarefa de conceber a esplendorosa decoração que recobre toda a fachada exterior das Galerias com dez peças de plástico móveis que se alternam durante o ano em função dos acontecimentos: Natal, Dia dos Namorados, liquidações etc.
A decoração, batizada como o nome de Crisálida, é uma obra plástica que confere a este templo da moda uma segunda pele sensível às mudanças do tempo e das estações do ano, que brilha e reverbera despertando nos transeuntes o desejo de entrar e gastar. Trata-se de um aparato com toque cósmico, assemelhando-se à Lua e a Saturno.
Dentro, no primeiro andar, um túnel decorado com vistosos pôsteres retrô conduz o visitante até a Galerie des Galeries, espaço onde fica em exposição permanente uma série de objetos que representam a essência da Maison há um século: catálogos antigos, manequins, caixas registradoras, um espelho de 1910, fotos do aviador Jules Védrines aterrissando um aeroplano no terraço superior da Lafayette em 1919.
Estilo bizantino
Tudo isso é completado com um mural da fama que exibe fotos de criadores com os quais a empresa trabalhou ao longo dos anos: Christian Lacroix, Agnès B, Sonia Rykiel, Daniel Hetcher, Inés de la Fressange, Jean-Paul Gaultier, Philippe Katerine, David Lynch. Baixando do teto no centro o empório, uma enorme tela led exibe vídeos e documentários.
“Escolhemos Rem Koohaas para o projeto porque, do mesmo modo que nossa cúpula transcende os limites da arquitetura e do simples comércio, é um símbolo da modernidade parisiense. Ele tem uma visão que se encaixa com perfeição com a cidade, a acultura, a sociedade e até a política”, explica Guillaume Houzé, bisneto do fundador da Galeria, Théophile Bader e diretor de marketing da casa, responsável pelo papel de mecenas das artes e das vanguardas que a Galeria Lafayette ocupa na França.
Monumento indiscutível da art noveau desenhado pelo arquiteto Ferdinand Chanut, a cúpula da Galeria representa o ponto culminante na criação desse bunker universal do consumo com 70 mil metros quadrados de área.
A cúpula, em estilo bizantino com 43 metros de altura sobre o enorme pátio central circundado por cinco andares de balcões, é uma estrutura modular de ferro forjado e cristal concebida por Edouard Schenck e decorada com motivos florais orientais pelo vidraceiro Jacques Gruber com o objetivo de tornar o ambiente mais acolhedor, lembrando a Paris da Belle époque, dos impressionistas e de Eiffel. No conjunto, um ambiente propício para despertar no cliente o desejo incontrolável de enfiar a mão no bolso e tirar a carteira, o talão de cheque e o cartão de crédito.
Galerias Lafayette, Paris. Veja o vídeo.
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Dom Total
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