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sábado, 25 de janeiro de 2014

15:44
 

Por Cristiano Bodart

Parece incoerente o título dessa pequena reflexão, mas acredito “caber como luva” em muitos casos que tenho visto nos últimos dias*. Soa como devaneio relacionar “revolucionário” com algo bastante típico do capitalismo. Espero que de fato seja devaneio meu e que eu esteja errado.

Tenho me deparado – isso por várias vezes - no Facebook com jovens se manifestando em prol ou contrários à “n-coisas”.  Ora usando no perfil sobrenomes indígenas, ora compartilhando pensamentos revolucionários; outras vezes postando vídeos em defesa ao “rolezinho”; demonstrando indignação contra a pobreza e as desigualdades sociais. Isso é sinal que as coisas estão mudando, porém "nem tudo são flores".


À primeira impressão é que temos uma sociedade repleta de pessoas críticas, sobretudo jovens. Embora isso possua um caráter político-pedagógico bastante significativo, observando de forma mais atenta e pensando um pouco mais sobre a questão me vem à incerteza... a preocupação. Será que todos eles, ou a maioria, sabe de fato o que querem? Entendem a realidade social brasileira? Essas perguntas surgem devido ao fato de termos uma sociedade que não lê, onde Educação não é prioridade, onde cursos “para inglês vê” estão por todos os lados e em todos os níveis. A descrença (ainda que não por completa) nessa “onda de jovens revolucionários” está na minha desconfiança de que a maioria deles não conhece nem mesmo as obras básicas para a compreensão da sociedade brasileira. Jovens que não sabem quem foi Caio Prado Junior, Sérgio Buarque de Holanda” (não confundam com o filho, que é o cantor), Gilberto Freire, e outros. Muito menos leram Marx, Lenin, Bourdieu, embora seus perfis sejam repletos de frases destes grandes pensadores do século XX.

A impressão que tenho é que temos um número grande de jovens que erguem bandeiras anarquistas ou marxistas sem nunca ter lido uma única obra dessas vertentes. Falam de discriminação racial, mas nunca leram “A integração do negro na sociedade de classes”, de Florestan Fernandes, ou outro trabalho substancial sobre o tema. Se intitulam marxistas sem nunca terem lido nem mesmo o Manifesto Comunista. Se considerarmos a incoerência que existe entre o que postam em seus perfis no facebook e o padrão de consumo em que se imergem vemos o quanto não passam de uma criação de um “produto” exposto na vitrine. Se perguntar-lhes sobre o “fetichismo da mercadoria” muitos poderão responder com uma indagação corriqueira: o que é isso?

Parece que ser de esquerda está na moda entre os “semi-intelectualizados”. Criticam os que se intitulam “reacionários”, chamando-os de “coxinha” em seu sentido pejorativo, para assim “vender” a imagem de revolucionários. “Interpretam” e julgam as posições dos outros como “revolucionários” ou “reacionários”, em outros termos, “preto” ou “branco”, como se entre essas duas cores não existisse uma infinidade de escalas de cinzas.

Temo que tenhamos produzido jovens que ao invés de verdadeiros revolucionários, são meros jovens que “seguem a onda”, à tendência... a moda. Jovens que estão mais preocupados em expor-se na vitrine do que mudar o mundo.

Corremos o risco de termos criado e multiplicado “jovens produtos”. Daqueles que pensam apenas em se expor, seja na vitrine das redes sociais ou da TV. Daqueles que compram a camisa de Ernesto Che Guevara com a mesada do pai. Que adora ir ao shopping, mas nunca entrou na livraria para escolher um bom livro. Verdadeiros “revolucionários” de vitrine.

Como disse Boaventura Sousa Santos, precisamos de revolucionários competentes.




* Não tenho nenhum pretensão de generalização. É certo que temos muitos jovens bastante conscientes de suas realidades sociais e conhecedores de suas causas e com grande repertórios teórico interpretativo. 

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