Evolução fez roedor ficar imune ao veneno de escorpião
Rato-gafanhoto se aproxima de um escorpião que ele acabou de matar.
Washington - O rato gafanhoto ("Onychomys torridus") é insensível às picadas de uma espécie de escorpião, uma raridade resultante da evolução que permite a este roedor da América do Norte alimentar-se deste inseto, reporta uma pesquisa publicada nos Estados Unidos.
Essa exceção biológica poderia ajudar os cientistas a desenvolver tratamentos contra a dor e antídotos para o veneno deste escorpião, o "Centruroides sculpturatus".
Não é comum que a evolução neutralize o mecanismo da dor que permite proteger o corpo das agressões externas e identificar uma doença, afirmam cientistas, cujo estudo será publicado na edição desta sexta da revista americana Science.
Para descobrir o segredo da resistência do rato gafanhoto, os cientistas estudaram os efeitos do veneno desta espécie de escorpião em outros ratos desprovidos deste mecanismo biológico.
Descobriu-se que as toxinas do veneno do escorpião neutralizam certos neurônios no rato gafanhoto, mas as ativam em outros roedores.
O veneno destes escorpiões contém poderosas neurotoxinas que agem no sistema nervoso central e no sistema circulatório, provocando intensas contrações musculares e insuficiência respiratória.
Depois de uma série de experimentos, os cientistas, entre eles Ashlee Rowe, da Universidade do Texas (Austin, sul), comprovaram que o veneno ativa alguns receptores da dor nos ratos normais, como em todos os mamíferos, mas isto não ocorre no rato gafanhoto.
Neste último, os biólogos descobriram que outro receptor, produto de uma mutação, gera aminoácidos diferentes, capazes de unir as toxinas do veneno e neutralizar todos os outros neurônios receptores da dor ao redor.
De fato, segundo os cientistas, o veneno parece desativar temporariamente qualquer forma de dor no rato gafanhoto. Este mecanismo de defesa é similar ao observado no rato-toupeira-pelado, insensível à dor, o que lhe permite suportar níveis muito elevados de dióxido de carbono nas galerias subterrâneas onde vive.
AFP
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