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sábado, 2 de novembro de 2013

Relatório questiona se a sustentabilidade é possível

O documento reúne uma coletânea de artigos de renomados pesquisadores.

A sustentabilidade ainda é possível? E, por falar nisso, existe alguma forma de ampliar a discussão sobre essa palavrinha tão distorcida atualmente, usada muitas vezes para adjetivar práticas que não têm nada (ou bem pouco) de sustentáveis? Esses são alguns dos principais questionamentos do relatório Estado do Mundo 2013 - a sustentabilidade ainda é possível?, que foi lançado em São Paulo pelo Worldwatch Institute Brasil (WWI).

O documento, que é publicado pelo WWI anualmente desde 1984, reúne uma coletânea de artigos de renomados pesquisadores e líderes do campo da sustentabilidade, como Pavan Sukhdev, Annie Leonard e Robert Engelman. 

"Vivemos hoje na era do blablablá da sustentabilidade, uma profusão cacofônica de usos da palavra sustentável para se referir a qualquer coisa entre ´melhor para o meio ambiente´ e ´descolado´. Hoje, o termo sustentável é com frequência adotado por empresas em comportamento frequentemente denominado greenwashing", critica Engelman no artigo Além do blablablá da sustentabilidade.

Para ele, o uso excessivo das palavras sustentável e sustentabilidade perde sentido e impacto. "Nos leva a crença sonhadora de que todos nós - e tudo o que fazemos, compramos e usamos - somos capazes de durar para sempre, mundo sem fim, amém. Dificilmente esta é a realidade", ressalta.

Para Engelman, precisamos "desesperadamente" - e já "estamos ficando sem tempo" - aprender a mudar nossa direção rumo à segurança para nós, nossos descendentes e para as outras espécies que são nossas únicas companheiras conhecidas no universo.

"E, enquanto enfrentamos essas difíceis tarefas, também precisamos preparar a esfera social para um futuro que pode oferecer dificuldades e desafios além dos que quaisquer seres humanos já experimentaram anteriormente. Podemos ter nisto, pelo menos, alguma esperança", projeta o presidente do WWI.

Limites planetários

Já a professora do Instituto de Mudanças Climáticas da Universidade de Oxford, Kate Raworth, destaca no documento que o bem-estar humano depende de mantermos o uso total de recursos abaixo das fronteiras críticas.

"Mas ele depende igualmente do direito de cada pessoa aos recursos de que necessita para levar uma vida digna e com oportunidades", pondera a também pesquisadora-sênior na Oxfam. Ela lembra que a maior fonte de pressão sobre os limites planetários são os níveis excessivos de consumo dos 10% mais ricos da população mundial, que controlam 57% da renda do planeta. "Somente 11% da população global geram aproximadamente metade das emissões de CO2", acrescenta.

Entre os palestrantes brasileiros que comentaram as conclusões do relatório no teatro Eva Herz, da Livraria Cultura, estão Eduardo Athayde, diretor do WWI-Brasil e colunista do EcoD, Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu, Ricardo Abramovay, autor do livro Muito Além da Economia Verde e Ricardo Voltolini, criador da Plataforma de Liderança Sustentável.

O economista Pavan Sukhdev, por sua vez, defende que as corporações possam de fato competir à base de inovação, conservação de recursos e satisfação das demandas de múltiplos públicos de interesse - em vez de na base de quem melhor consegue influenciar a regulação governamental, evitar impostos e obter subsídios para atividades nocivas, otimizando o retorno aos acionistas. "Este novo modelo pode ser chamado Corporação 2020, porque o ritmo em que nos aproximamos dos limites planetários sugere que 2020 é a data na qual este modelo precisará estar funcionando, para que não ultrapassemos os limites", alerta.
Eco Desenvolvimento

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