Páginas

sábado, 2 de novembro de 2013

RIO DE JANEIRO: Crise de Eike põe em risco Hotel Glória

CÉLIA COSTA (EMAIL)
Publicado:

O Hotel Glória, uma das vitirnes de Eike, está com as obras paradas -
Foto: Fábio Rossi / Agência O Globo
O Hotel Glória, uma das vitirnes de Eike, está com as obras paradas - Fábio Rossi / Agência O Globo
RIO - Parceiro cobiçado pela iniciativa privada e também pelo poder público, o empresário Eike Batista fez com que seus sócios fossem da euforia à decepção em pouco mais de um ano e meio. Com o ocaso do ex-bilionário, agravado com o pedido de recuperação judicial da OGX, projetos na cidade orçados em cerca de R$ 700 milhões estão cercados de dúvidas. O empresário, que sempre declarou seu amor incondicional ao Rio, assinou convênios para importantes empreendimentos, inclusive de apoio à área da segurança, e, com a crise, se desfez deles.
Entre os projetos abandonados estão a revitalização da Marina da Glória e o novo Hotel Glória, além da ajuda financeira às UPPs. O programa de despoluição da Lagoa — parceria entre Cedae, Secretaria municipal de Meio Ambiente e EBX, que reúne todas as empresas de Eike — também foi deixado de lado. A Cedae informou que a sua parte, que incluía a utilização de um robô-espião para monitorar a rede pluvial e a construção do centro de controle operacional de elevatórias no Leblon, foi concluída. Já o convênio com a Secretaria de Meio Ambiente foi rescindido. O órgão não quis comentar o assunto e disse que apenas a EBX poderia se pronunciar sobre o caso. A empresa, por sua vez, informou que, por enquanto, não falaria sobre os projetos abandonados.
O programa das UPPs, um dos mais importantes na área da segurança do Rio, também sofreu um impacto com o ocaso de Eike. Convênios, assinados em 2010, garantiam investimentos de R$ 20 milhões por ano para as ações da Coordenadoria de Polícia Pacificadora. Em agosto deste ano, no entanto, a OGX rescindiu o convênio com a Secretaria de Segurança. Um dos efeitos imediatos foi a paralisação das obras de construção da base da UPP do Batan, em Realengo. O prédio, que ainda está no esqueleto, já começa a enfrentar problemas de deterioração.
Segundo a Secretaria de Segurança, o convênio com a OGX previa investimentos em infraestrutura e logística (sedes, bases comunitárias e equipamentos, entre outros) das UPPs. Ainda de acordo com o órgão, a obra da UPP no Batan será retomada, mas o prazo não foi informado. A secretaria e a RioUrbe estão fazendo um levantamento dos serviços que serão realizados. Em 2014, a ideia é acrescentar os projetos ao planejamento orçamentário do estado.
Considerada um dos programas mais ambiciosos de Eike, a revitalização da Marina da Glória causou polêmica desde o início. Orçado em R$ 200 milhões, o projeto previa integrar ainda mais o local ao Parque do Flamengo, além da construção de lojas e de um centro de eventos. Em junho deste ano, no entanto, o juiz federal Wagner de Almeida Pinto obrigou a empresa a desfazer o alargamento do píer e a remover a cisterna e as estacas fincadas no espelho d’água, liberando o acesso público ao mar. Na decisão, o juiz entendeu que as obras restringem o uso do espaço. De lá para cá, nada foi feito.
Iate Pink Fleet vai virar sucata
Um dos barcos que ficavam ancorados na Marina era o Pink Fleet, que custou US$ 19 milhões (R$ 42,6 milhões) e era um dos símbolos do auge do empresário, que chegou a ser citado como o sétimo homem mais rico do mundo. Para se livrar dos custos de manutenção, estimados em R$ 300 mil mensais, além de outra dívidas, Eike chegou a oferecer o iate à Marinha, que não se interessou. Sem conseguir passar adiante a luxuosa embarcação, o empresário o enviou para o Estaleiro Cassinu, em São Gonçalo, para virar sucata.
O novo Hotel Glória é outro ousado projeto do ex-bilionário. Propriedade da REX, braço imobiliário da EBX, ele agora está sendo negociado com a companhia suíça Acron. Deveria entrar em operação na Copa de 2014. No entanto, a conclusão das obras está prevista apenas para o quarto trimestre de 2015.
Outro projeto que todos temem que seja abandonado é a transformação em hotel do Edifício Hilton Santos, um prédio de 24 andares e 148 apartamentos junto ao Morro da Viúva, no Flamengo. O imóvel, que era propriedade do Clube de Regatas do Flamengo, foi vendido à empresa REX em janeiro de 2012. A proposta era fazer, ao custo de R$ 90 milhões, um hotel que estaria em funcionamento até as Olimpíadas de 2016. Hoje, o edifício está vazio. Nas áreas externas, o mato cresce. E nada está definido.
O vice-presidente de Patrimônio do Flamengo, Alexandre Wrobel, disse que está marcada uma reunião com a REX na próxima quarta-feira, para discutir os rumos do projeto. Segundo ele, o clube já recebeu o valor integral pela venda. Na negociação, feita ainda na gestão de Patricia Amorim, ficou acertado ainda que o Flamengo teria abatida uma dívida de aproximadamente R$ 16 milhões em impostos e o direito de utilizar 20 quartos do hotel.
Obras do Porto do Açu em dúvida
Localizada no Norte Fluminense, a cidade de São João da Barra, que tem 35 mil habitantes, vive momentos de incerteza. O secretário de Fazenda do município, Ranulfo Vidigal Ribeiro, recorda os momentos de euforia com o projeto do Superporto do Açu, anunciado em 2006 pela EBX. A decepção, segundo ele, começou em 2010, quando empresas como a siderúrgica chinesa Wisco e outras desistiram do empreendimento. A crise, no entanto, só se tornou realidade em 2011.
— A cidade se preparou para isso e fez investimentos. O porto gerou dez mil empregos. Também gerou renda em vários setores, como a construção civil e o comércio. No entanto, do segundo semestre do ano passado até agora, já perdemos aproximadamente três mil empregos, sendo 1.500 formais — explicou o secretário de Fazenda.
Em 2011, quando o trabalho no porto ainda era intenso, o município chegou a ocupar a 18ª posição no ranking de emprego e renda da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Hoje, está no 34º lugar.
O orçamento do município também foi prejudicado. Segundo Ranulfo Vidigal Ribeiro, a previsão para 2014 era de R$ 411 milhões, mas agora não deve chegar a R$ 360 milhões. De acordo com ele, o momento é de expectativa com o grupo americano EIG Global Energy Partners, que adquiriu o Porto do Açu e prevê que o empreendimento fique pronto em 2015.
— Esperamos que, a partir do primeiro trimestre de 2014, haja um reaquecimento e tenhamos de volta os empregos perdidos. A nova empresa já designou até um gerente — disse o secretário de São João da Barra.
Outras iniciativas do ex-bilionário
Lagoa Rodrigo de Freitas. A parceria do grupo EBX com a Cedae e a Secretaria municipal de Meio Ambiente para despoluir a Lagoa foi abandonada no fim do ano passado. A empresa de Eike investiu R$ 23 milhões dos R$ 30 milhões previstos.
Pink Fleet. A empresa de Eike investiu R$ 35 milhões na reforma do iate, que chegou a fazer passeios e festas pela Baía em 2008. A embarcação está num estaleiro em São Gonçalo para virar sucata.
Terra Encantada. No ano passado, uma das empresas X anunciou que havia comprado o terreno de 700 mil metros quadrados na Barra, onde o parque havia funcionado. O projeto era erguer um bairro planejado. A compra sequer foi concretizada.
Maracanã. O empresário continua com sua pequena fatia de 5% no consórcio.
RJX. O time de vôlei foi criado em 2011 com patrocínio integral do empresário, que agora tem apenas uma parcela.
Hospital Pro Criança. O empresário doou R$ 30 milhões, em 2011, para a conclusão da unidade.
Porto Vida. A REX tem uma participação no projeto do condomínio residencial na Região Portuária, com 1.333 unidades. A prefeitura informou que a obra está no prazo.
NDX Day Hospital. O projeto da unidade de saúde na Barra, que em 2006 estava orçado em R$ 55 milhões, não foi adiante. Hoje, no prédio, funcionam alguns consultórios médicos.
Beaux. A clínica de estética, de Flávia Sampaio, mulher de Eike, fechou no ano passado. O investimento, de R$ 20 milhões, com aparelhagem de ponta, dava prejuízo mensal de R$ 300 mil


em http://oglobo.globo.com/rio/crise-coloca-em-risco-investimentos-de-eike-para-cidade-10666595#ixzz2jUIHEMsa 
© 1996 - 2013. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivo do blog

Pesquisar este blog