Páginas

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

E o nobel vai para o Brasil...

Émilien Vilas Boas Reis*


Dom Helder Câmara: proibido pelos militares de receber a láurea da Paz (Foto: Divulgação)
Durante esta semana foram conhecidos os nomes dos laureados com o prêmio Nobel de Medicina, Física, Química, Literatura e Paz. Nesta segunda o prêmio será conferido para a área de Economia. O Nobel é entregue em várias dessas áreas desde 1901 e o Brasil, grande país emergente, continua a ficar sem um único prêmio. Claro que a láurea não é um parâmetro absoluto para essas áreas (e o Nobel para o Philip Hoth? Vão esperar morrer?), mas indica um bom caminho das pesquisas relevantes nas áreas de medicina, física, química e economia feitas ao longo dos séculos XX e XXI. 

O Nobel da Paz talvez seja o mais marcado por interesses políticos. Barack Obama, vencedor em 2009, é um exemplo claro disso, já que tem dificuldades, como chefe do maior Estado mundial, em manter a paz (como se vê atualmente). Por outro lado, Mahatma Ganghi não foi laureado, o que ilustra um erro imperdoável.

O Nobel de Literatura, por sua vez, tem sido marcado pela diversidade cultural. Nomes obscuros às vezes ganham, mas clássicos como James Joyce (1882-1941) ou Marcel Proust (1871-1922), dois dos maiores autores do século XX, foram preteridos. Pelo menos autores como Thomas Mann (1875-1955), Luigi Pirandello (1867-1936), T. S. Eliot (1888-1965), Albert Camus (1913-1960), Samuel Beckett (1908-1989) e outros gigantes foram laureados. 

O prêmio de Economia se concentra em europeus, americanos, canadenses e israelenses. O indiano Amartya Sen, ganhador em 1998, fugiu à regra. 

Os prêmios de Medicina, Física e Química tem em comum o fato de que grande parte de seus vencedores das últimas décadas se concentram em pesquisa de ponta nas grandes instituições de ensino e pesquisa ao redor do mundo, o que ilustra a necessidade de recursos para se ter um laureado em seu quadro. É por isso que os ganhadores se concentram em europeus, americanos, canadenses, japoneses, australianos, israelenses, e, mais recentemente, chineses. 

Ao todo, 75 países já tiveram um prêmio Nobel e o Brasil não ganhou nenhum. Em algumas vezes faltaram oportunidades, como os casos de Dom Helder Câmara, proibido pelos militares de receber a láurea da Paz, ou de Zilda Arns, que morreu em um terremoto no Haiti, e que era cotada para o mesmo Nobel da Paz. Na literatura também tivemos nomes ao longo do século XX que poderiam ter recebido a homenagem. Mas e nas demais áreas? 

Excetuando-se talvez os nomes de Osvaldo Cruz (1872-1917) e Carlos Chagas (1878-1934) (este último chegou a ser indicado para o prêmio), que foram pioneiros em estudos de doenças tropicais, não é de se espantar a falta de nomes brasileiros. Os laureados nas áreas de medicina, física, química e economia são quase todos oriundos de grandes instituições de ensino, que têm tradição e dinheiro para pesquisas. Isto não é complexo de vira-lata, é constatação!

O Brasil não tem obrigação alguma de ter um laureado, mas tal situação ilustra a precariedade que há na educação e na pesquisa brasileira. Há algum tempo vende-se uma imagem de que o país está no caminho certo quanto à educação. Mentira! O ensino é fraco e a pesquisa pior. Ou um país tem um projeto educacional ou não. Não há meio termo. Em nosso caso, ser uma das primeiras economias do mundo vendendo minério e soja (a partir de pesquisas estrangeiras) não tem dado retorno nas áreas científicas.

*É graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre e Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professor de Filosofia do Direito e Metodologia de Pesquisa na Escola Superior Dom Helder Câmara. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivo do blog

Pesquisar este blog