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domingo, 20 de outubro de 2013

Universo dos cliques - Brígida Rodrigues Coelho


O mundo virtual me dá medo. E não é pouco. O mundo virtual me assusta. E é de um modo intenso. O mundo virtual me fascina. E se tornou um vício. O mundo virtual é incontrolável. E isso me fascina e assusta.

É tudo tão acessível no mundo cibernético... Livros, filmes, séries, erotismo, informação, diversão, contato. O mundo inteiro fica ao seu alcance! E em tempo real. Instantaneidade, praticidade. Como não viciar em algo assim? Pior que os computadores são os smartphones... Como se não bastasse nos isolarmos em nossos quartos, nos isolamos também em restaurantes, ônibus, festas familiares e, pior, em sala de aula. Em um momento o professor está dando ‘bom dia’, você ainda está ciente da aula, até que uma mensagem no whatsapp chega e, quando você se dá conta, a professora já está falando a matéria que vai cair na prova. O mundo virtual é paralelo e suga seus usuários, não há dúvida disso.

E tal mundo está tão intrínseco em boa parte da sociedade que as pessoas começam a escutar barulhos referentes às redes sociais sem que estas estejam, de fato, notificando seu usuário de algo. Sentimos nossos celulares vibrarem quando nem sequer mexeram. Precisamos que alguém fale, curta, comente, cutuque alguma coisa referente ao seu perfil. Não queremos conversa com o Seu João da portaria, ou com seu irmão, pai ou mãe, mas adoraríamos que eles curtissem sua foto de comida no instagram. Não precisa conversar comigo, mas curta meu post.

A Geração Y, mais especificamente, criou um modo não linear de conversar e falar que reflete essa linguagem virtual. Por isso às vezes é muito complexo entender como funciona a cabeça destes jovens. Ao mesmo tempo em que tem muita gente presente em suas vidas, não há ninguém realmente palpável, concreto. É um universo quase ilusório medido pelo número de seguidores e “amigos” que possuímos na rede, mas que nunca vimos na vida. Curtindo e comentando, que mal tem?

Estamos conectados 24 horas por dia. Dormimos com o celular ligado e embaixo do travesseiro. Vamos ao banheiro com o celular. Escovamos dente com o celular. Comemos com o celular. Assistimos aulas com o celular. E não há nada pior na vida de um milênio que esquecer o carregador do seu smartphone, iphone, o que seja! Ficar sem escutar o doce som que emite a chamada de alguém no whatsapp é quase enlouquecedor para muitas pessoas. 

Amamos cada vez mais esse contato virtual com o outro, em que se desconectar de alguém (em todos os sentidos) é muito mais simples. Tente terminar com um namorado (a) pelo facebook... É simples, prático, curto e grosso, sem dor. Não há um envolvimento pessoal. Não há olho no olho, há webcam com webcam (e que tenha boa qualidade de imagem)! Não ter rede social, atualmente, é motivo até de desconfiança... Se alguém responde “Não tenho facebook” é quase como assinar um documento que afirma que você tem algo a esconder... Ficar conectado e compartilhar tudo o que se faz na vida virou uma necessidade quase fisiológica. Dizer “Não tenho facebook” é esperar por olhares incrédulos do tipo: “Como você vive?”. Senti tanto o peso destes olhares que hoje tenho um (me adicionem lá). 

A Geração Y tinha tudo para ser autêntica, libertária, menos hipócrita. O convívio com outras culturas deveria ter nos tornado mais experientes e até mesmo cultos. Mas é impressionante como tem ocorrido o contrário. As pessoas não sabem filtrar o que veem.  Não sabem equilibrar prazer e utilidade. Quantas horas de estudo e trabalho não são perdidas em YouTube e Facebook?

Vídeos íntimos ‘vazam’ por aplicativos como Whatsapp e em instantes milhares de pessoas tem acesso (e eu fico me perguntando se a indústria pornográfica está tão em baixa assim, para vídeos como estes serem tão difundidos). Meninas de 14 anos trocam fotos nuas com suas amigas, até que uma delas decide mostrar para todo mundo! E pais ficam desesperados, e meninos animados, amigas envergonhadas, professores decepcionados, e o Direito barrado, sem saber ainda como agir em situações tão tênues como a internet.

Conseguimos transformar algo grandioso em mera porcaria. #usemainternetdeformaconsciente#porfavor

Brígida Rodrigues Coelho é graduanda em Direito pela Escola Superior Dom Helder Camâra. Começou a escrever com 15 anos no jornal filosófico Conhece-te a ti mesmo e, atualmente, tem uma coluna no jornal o Baruc, de Congonhas e região. Vencedora de muitos concursos literários nacionais e internacionais gosta de focar em assuntos críticos os quais possa relacionar à filosofia. 

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