Ter direito SOBRE O PRÓPRIO corpo sim!
Por: Binho
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No dia a dia, é comum que entremos em vários tipos de discussões a respeito dos mais diversos temas. Alguns temas são polêmicos, outros nem tanto. Em uma discussão, julgo que a argumentação é o mais importante. Se o argumento for bem colocado, com o devido embasamento, considerando a verdade inerente ao assunto, ele pode ser considerado válido. Se o argumento for baseado em “achismos” ou em “ouvi falar”, aí a coisa fica meio complicada. Infelizmente, o que acontece, é que um monte de gente argumenta baseada em achismo ou no ouvi falar, ou vi na tv, ou li na Wikipédia.
A vida moderna nos trouxe uma era que podemos chamar a era da informação. Nunca foi tão fácil ter acesso a informação como nos dias atuais. Mas parece que justamente essa facilidade criou pessoas preguiçosas, que são incapazes de buscar a fundo os argumentos para suas posições, e acabam embasando suas posições de forma superficial, frutos do ouvir dizer...
Bom, dentre tantos e tantos temas em que isso acontece, um que gera sempre muita polêmica e discussão é o aborto. É sobre esse tema que pretendo discorrer nas linhas abaixo.
Vou tentar aqui elucidar um argumento que é bem recorrente e parte do lado das pessoas que são a favor. Via de regra, em discussões a favor do aborto, sempre ouvimos que a mulher tem direito a decidir sobre seu corpo.
Bom, começo dizendo que a afirmativa não é totalmente falsa; de fato, para o direito civil brasileiro a pessoa pode autogovernar-se da forma que lhe for conveniente, desde que tenha plena ciência do ato que está fazendo. O problema é que o que é gestado na mulher não faz parte do seu corpo, não é uma extensão dele e em momento algum pertence à mulher.
Comecemos pela genética. A não ser que a mulher tenha uma autofecundação, como acontece em plantas, o patrimônio genético do embrião é diferente do patrimônio genético da mãe. Isso caracteriza um novo indivíduo desde a junção dos gametas feminino e masculino, estágio inicial da vida e já vida humana. [1]
Essa questão intrigou a comunidade médico-científica por muito tempo. Como o sistema imune da mulher não ataca o feto para removê-lo e eliminá-lo, já que ele não pertence ao corpo por ser geneticamente diferente, exatamente como acontece nos casos de implantes?
Em 2012, um grupo de cientistas liderados pelo Doutor Adrian Erlebacher, publicou na Nature um estudo no qual descobriram o porquê de o sistema imune da mãe não eliminar o feto. Antes deles, muitos já buscavam essa resposta, muitos avanços foram feitos; a pesquisa em questão é citada por mim por ter descoberto de forma mais completa até agora os mecanismos pelo qual o sistema imune da mulher não rejeita o feto como sendo um intruso.
Em seu trabalho intitulado “Mechanisms of T cell tolerance towards the allogeneic fetus” (Os mecanismos de tolerância de células T em relação ao feto alogênico – Tradução livre), os pesquisadores contam que a implantação do embrião desencadeia um processo que, em última análise, inativa uma via necessária para que o sistema imunológico ataque os corpos estranhos (o feto é um corpo estranho por ser geneticamente diferente). Deste modo, as células imunes nunca são recrutadas para o local do implante e consequentemente, não podem prejudicar o desenvolvimento do feto.
Naturalmente o sistema imune atua contra os tecidos transplantados estranhos e agentes patogênicos através da produção de quimiocinas, um tipo de proteína, que é a resposta do sistema imune a um processo inflamatório local. As quimiocinas são recrutadas por várias células do sistema imune, incluindo os linfócitos T ativados. Durante a gravidez, os antígenos do feto e da placenta entram em contato com as células do sistema imune da mãe, mas não desencadeiam tal processo que geraria uma rejeição natural.
A equipe do dr. Adrian Erlebacher já havia constado em outro estudo intitulado Why isn’t the fetus rejected? (Por que o feto não é rejeitado? Tradução livre), que os linfócitos T, que tem como função atacar os tecidos estranhos, eram incapazes de fazer isso com o feto, o que os levou a criar uma hipótese de que havia algum tipo de barreira física que impediam os linfócitos T de atacarem o feto, como seria o normal.
A partir disso, concentraram seus esforços na decídua, uma estrutura que envolve o feto e a placenta. Eles descobriram que o início da gravidez faz com que os genes responsáveis pela sinalização e recrutamento das células do sistema imunológico sejam desativados dentro da decídua. Desta forma os linfócitos T não se acumulam dentro dessa estrutura e assim não atacam a placenta e o feto.
Falhas na regulação deste processo podem levar a inflamação e a acumulação de células do sistema imune dentro desta estrutura que podem conduzir a complicações durante a gestação que podem ir desde o parto pré-maturo até o aborto espontâneo.
"Esta é uma descoberta muito empolgante, pois explica o motivo pelo qual o feto não é rejeitado durante a gravidez, uma questão fundamental para a comunidade médica que tem grandes implicações na gravidez humana", revelou em comunicado de imprensa Adrian Erlebacher.
No começo do texto eu falava que um argumento válido dever ser embasado na verdade a respeito do assunto. A verdade é que o feto, desde sua concepção e implantação no útero, não é parte do corpo da mãe, e muito menos extensão dele. Atentar contra outra vida não é direito de ninguém.
Portanto, meus amigos, que a mulher tenha direito sim sobre o seu corpo, mas que respeite o outro ser que nela é gerado, pois desde o primeiro momento, todo um aparato genético e fisiológico é necessário para preservar o feto e a vida que ali já se desenvolve. Desde o primeiro momento o sistema imune da mulher reconhece aquele corpo como um corpo estranho, não próprio da mulher. Não fosse todo esse aparato de proteção, o feto seria atacado e eliminado do corpo da mulher por não pertencer a ela.
[1] Para fins de definição consideramos que desde a fecundação o que se desenvolve é vida humana. Embora existam teorias que tentam estabelecer que a vida humana começa só em estágios posteriores, ainda faltam provas conclusivas para que estas teorias sejam consideradas verdadeiras.
Cleber Nunes Kraus
Mestrando em Ecologia - UnB / Oficina de Valores
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